domingo, 28 de abril de 2013

Vagi-o-quê?



Como começar um blog onde pretendo externalizar uma dor que hoje finalmente entendo passageira, sem deixar de lado detalhes importantes, lágrimas importantes, esperanças importantes, momentos tão complexos?

Vamos pelo começo de tudo, pela raiz de um problema não tão matemático,
mas tão confuso quanto a própria.
Começo explicando que me dei um novo apelido para me sentir mais a vontade, entendi que o ficar mais a vontade é um dos passos fundamentais nessa luta. 
Thai Soma é uma brincadeira com meu nome real, mas, como diria Shakespeare em seu grande clássico de amor: "O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem."
Então comigo tudo começou, como com tantas outras mulheres, na infância, com um vizinho maldoso, com insinuações, toques e abusos. Com a distração de pais ingênuos criados no interior que achavam natural a filhinha ter amigos de várias idades e que talvez só tenham passado a ter mais cuidado com essas amizades no dia que notaram algo diferente nesta em especial, algo tão pequeno perdido num mar de coisas maiores que eles jamais perceberam, mas que foi suficiente para protegê-la, infelizmente, tarde demais.
Vamos complicar mais essa história ao dizer que esses pais, profundamente católicos e criados em lares onde sexo era um tabu mais hediondo que o próprio diabo, jamais deram a essa filha espaço para contar o que aconteceu, que a ameaçavam sempre que ela tentava tocar no assunto da sexualidade e talvez achassem que assim, a fariam esquecer o que passou e... ser normal.
Crescendo essa menina, convivendo cada vez mais com o silêncio imposto pela educação rigorosa, a timidez e ingenuidade passaram a ser suas bases de ser, culpando-se e castigando-se por qualquer desejo que seu corpo demonstrasse e fechando-se num casulo que ela jamais imaginaria ser tão difícil romper.
Essa sou eu.

Alguns anos mais tarde, o primeiro namorado sério, também muito católico, também virgem e também tímido. Achamos que o certo seria realmente manter a castidade e lutamos por ela até o dia em que os hormônios passaram a ferver nos corpos jovens e o instinto natural tão evitado passou a falar mais alto. O peso da religião já tinha se afastado, já entendíamos que o desejo era algo natural com o amor que sentíamos e decidimos não nos frear tanto. Como as possibilidades de ficarmos sozinhos eram raras, quando a primeira finalmente chegou, muito tempo depois éramos pura ansiedade. Não rolou, claro. Mas nesse instante o sentimento era de medo, da sensação de estarmos fazendo algo errado e para esse lado foi a culpa da não realização. 
Somente muitas tentativas depois, com mais liberdade e desejo no ápice finalmente entendemos que alguma coisa estava errada. Contei do meu passado, ele me acolheu e disse que tivéssemos paciência. Tivemos, mas a danada foi acabando.
Muitos anos depois do começo dessa história e com a ajuda da preciosa ferramenta de salvação chamada internet, finalmente descobri o que poderia estar acontecendo comigo. Tudo começou a fazer sentido, muitas lágrimas passaram a cair numa mistura de alívio por entender e medo por não compreender totalmente.

Então hoje, aos 31, casada e com a possibilidade de me tratar, dei meu primeiro passo de mostrar o que se passa em mim, para que, dando um nome à esse problema, eu o perceba do tamanho que ele realmente é e possa, enfim, derrotá-lo.
Aí quem sabe esse meu desabafo ajude outras flores por aí, que ainda guardam seu perfume e não conseguiram abrir suas pétalas para a chuva da vida, aquela que lava a alma e faz a palavra mulher finalmente fazer sentido.

5 comentários:

  1. Olá Thai, não deixe o blog de lado, ele pode ajudar pessoas que assim como eu tbm sofrem com este mal.
    Tbm sou de Brasília e gostaria de trocar experiências sobre o tratamento.
    Rumo à Cura. Abraços.

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    Respostas
    1. Que bom, flor! Vamos nos ajudar sim!
      Você está se tratando com quem? Se for um bom profissional e quiser indicar é só deixar o contato, foi assim que cheguei à minha.
      Abraço grande!

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  2. Olá Thai! minha historia é muito semelhante com a sua, não imagina o quanto me ajudou.... Continue postando. Abçs

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  3. Que texto lindo!!!
    Sou nova aqui. Tenho 23 anos e ainda virgem. Estou na luta...

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  4. Olá Thai,
    Suas palavras me emocionaram aqui. Eu comecei minha luta há poucos dias e minha ficha está caindo aos poucos. Criei um blog também. Espero um dia inspirar e emocionar pessoas assim como vc.

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