Percebi, ao longo desse tempo de tratamento e luta contra o vaginismo, que a maior de todas as raízes por trás das dificuldades em minha vida é a ansiedade.
Ela afeta tantas de nós, em tantas áreas de nossas vidas que não é justo que passe despercebida e forte.
A correria do dia a dia, as cobranças do trabalho, dos estudos, da família, o excesso de informação e nossa necessidade constante de lidar com tudo isso da forma mais fina e ágil possível tem trazido consequências que às vezes só notamos tarde demais.
Encontrei uma matéria que me fez enxergar por um lado diferente todos os meus problemas para vencer de forma concreta meu vaginismo e queria compartilhar aqui.
Vencer a ansiedade
Medo, suores, sufoco, palpitações…
os sintomas o paralisam e o mundo
parece ameaçador.
Encare-o sem medo e descubra a vida.
Na zona de conforto nada acontece.
Ilustração de João Fazenda
Dirigir, falar em público, relacionar-se com um grupo de pessoas
conhecidas, matricular-se em um curso interessante, ir ao médico, fazer
compras, educar os filhos, passar por uma prova, paquerar, relaxar em um jantar
com amigos, ver um filme no cinema, andar de metrô, correr ou fazer uma viagem
de férias. São situações cotidianas, nas quais se poderia aproveitar e
aprender, mas que se transformam em um verdadeiro desafio ou até martírio para
as pessoas que
sofrem de ansiedade.
Alguns dos sintomas que acompanham essas pessoas são sensação de sufoco,
asfixia, palpitações, transpiração, tensão muscular, boca seca, bloqueios
mentais, sensação de irrealidade, estado de confusão mental, esquecimento de
palavras ou até do desenrolar de uma conversa, insônia, apatia e vontade de
chorar. A cabeça parece uma máquina de lavar centrifugando. Uma ideia atrás da
outra, os pensamentos se repetem, se atropelam, questionando, avisando,
ameaçando, fazendo a pessoa sentir que é inútil e não é capaz
de tomar o controle de sua vida. Basta!
Respire,
tenha um momento de calma e leia a seguir como ganhar o jogo contra
a ansiedade. Aplicando os conselhos abaixo, você aprenderá a colocá-la no lugar
que merece. Você pode escolher os pensamentos e as emoções que o tornarão uma
pessoa com recursos. Não seja uma marionete de suas emoções. Você tem
capacidade para escolher e participar ativamente da sua vida.
Mude o foco da atenção. Seus sintomas não são os protagonistas, o
protagonista é você. Chega um momento em que surge o famoso medo do medo: você
fica dependente de como seu corpo se comporta, da intensidade com que se
manifestam seus sintomas de ansiedade e como eles condicionam sua vida. Você faz
um check-up, se submente a exames, comprova suas funções vitais para decidir se
está apto ou não para enfrentar cada situação. Todo o seu mundo gira em torno
do que ocorre dentro de você. Quanto mais concentrar sua atenção naquilo que
não quer que ocorra, mais aumenta a possibilidade de que aquilo aconteça. Por
que? Porque você está instruindo seu cérebro a ficar dependente de qualquer
sinal de alerta. Você converteu em ameaça sinais que não são isso. Sua mente
agora está treinada para buscar palpitações, transpiração e outras reações. E
quando as detecta, ela o adverte dizendo “Perigo!”. O sinal vai rapidamente ao
sistema nervoso simpático, e este se acelera pensando que tem que protegê-lo da
fera. Ele prepara você para sair correndo ou lutar. E como ninguém luta com
ferocidade estando em estado de calma, a mente ativa todos os seus sentidos. O
coração bate forte, seus músculos se tencionam, você começa a suar e a respirar
de forma agitada. Você está pronto para o combate. A resposta do corpo é
lógica.
O que não é lógico é que seu mundo seja tão ameaçador. É preciso parar
de fazer tanto exame.
Conselho: Aprenda técnicas de relaxamento e meditação? Já
experimentou o mindfulness? Sua atenção tem que estar naquilo
que ocorre a seu redor. Não no que resta, mas sim no que o alimenta. Se você
está passando uma boa tarde na companhia de amigos, observe seus rostos, entre
de cabeça na conversa, saboreie o que está sendo servido, preste atenção na
temperatura e na paisagem. A vida está acontecendo a seu redor. A vida não está
nas respostas de seu organismo. A atenção não pode estar em dois assuntos ao
mesmo tempo. Ou você vai notar o quanto está se sentindo mal ou vai se
concentrar em aproveitar o momento. E se um sintoma der sinais, fique
tranquilo, deixe-o acontecer. Mas não converse com ele nem expresse seu temor.
É maravilhoso ter sintomas: significa que você está vivo!
Converse consigo mesmo em outro idioma. O tipo de vocabulário que uma
pessoa ansiosa mais utiliza para se expressar é algo como “estou com medo,
estou sobrecarregado, não posso, e se..., não estou preparado, outra hora,
estou tremendo, está tudo péssimo” e inúmeras expressões que tendem ao
catastrofismo e com as quais a pessoa se sente insegura e incapaz.
A maneira que você tem de pensar e se expressar condiciona suas emoções
e seu comportamento. Se expressa que há ameaças, seu sistema nervoso se ativa e
desencadeia a resposta da ansiedade. Simples assim. É a terceira lei de Newton:
ação e reação. Você precisa falar consigo mesmo em outros termos. Você passa
tanto tempo antecipando o fracasso e o perigo que carece de expressões e do
vocabulário adequado para enfrentar as situações.
Conselho: Quem escolhe os pensamentos que invadem a sua mente? Ninguém
mais do que você. Agora você está acostumado a se relacionar com um estilo
cognitivo alarmante. Mas é possível substituí-lo por outro que o permita
contemplar o mundo sem esse caráter ameaçador. Para modificá-lo, você terá que
escrever... Diante da situação temida, anote como gostaria de enfrentá-la e os
pensamentos que poderiam ajudá-lo. Não evite pensar nela, apenas aceite-a. Ela
não é perigosa, só incômoda.
Desapaixone-se.
Não de sua namorada ou esposa, mas da possessiva ansiedade. Se você
se der conta, verá que se comporta com ela como se vivesse um romance em plena
efervescência. Você a observa, a encara, responde a ela, fala com ela e fala
dela para todo o mundo. Seu círculo se limita à ansiedade. Ela decide por você
se pode fazer algo ou não. Você deu a ela poderes demais. Mantenha um diálogo para
colocar uma distância entre vocês, e até a desafie.
Conselho: Cada vez que notar que está atemorizado pelos sintomas, em vez
de verbalizar “não aguento mais, estou péssimo, assim não posso continuar, não
sairei nunca desse buraco”, diga algo como “que chata, o dia inteiro com um
sintoma aqui, outro ali. Se você não se importa, vou ler, trabalhar, correr
etc., e mais tarde, se tiver vontade, volto a te escutar. Agora não é hora”.
Deixe de evitar. Cada vez que acontece aquilo que você teme, é comum se
sentir protegido e conformado em sua zona de conforto. Mas este não é o lugar
onde você quer estar. Aí não acontece nada interessante, apenas ter tudo sob
controle.
Conselho: Proponha a si mesmo se transformar em um explorador, um
aventureiro. A vida é para
ser descoberta, inclusive atravessando emoções desagradáveis.
Qualquer um que estabeleça um desafio para si mesmo sabe que haverá momentos de
alegria e orgulho, e outros de desvanecimento, desilusão, esforço e
preocupações. Não é preciso esperar por uma luz para dar um passo adiante. Será
necessário sair da sua zona de conforto com dor de cabeça, enjoos e
palpitações. E sabe o que você vai descobrir? Que é capaz de fazer isso, que
não é tão dramático quanto antecipava e que as emoções desagradáveis não são
incompatíveis com a vida cotidiana. Quanto antes você se familiarizar com elas,
melhor. Rafael Nadal gosta de jogar tênis, mas não deve apreciar competir com
as mãos cheias de bolhas. Ele o faz mesmo assim. É o passo necessário para
tentar ganhar.
Tome uma atitude. Ninguém vai fazer isso por você. Deixe de ruminar. A
solução não está em pensar cada vez mais em seu mal-estar. A solução está em
recarregar as baterias e fazer o que é incompatível com a resposta de
ansiedade: relaxar, pensar de maneira útil, rir muito e desdramatizar mais,
descansar, levar uma vida equilibrada, ter amigos e bons momentos para guardar
na memória.
Conselho: Não tente racionalizar tudo. Deixe de pensar mil vezes no que
pode acontecer. A vida tem seu ponto de inconsciência. Se você quer se superar,
terá que correr algum risco, ainda que pequeno. Mas a vida está cheia deles.
Nada acontece se você não participa. E cometa erros. Falhar faz parte da
aprendizagem. O único que pode se reprimir e censurar é você mesmo, e deve se
lembrar o tempo todo que não é obrigado a fazê-lo.
Aquele que não corre nenhum perigo é aquele que deixou de viver por tudo
sempre sob controle. Não desanime. Acomodar-se e proteger-se não é a solução
para sua ansiedade. Se você colocar estes conselhos em prática, posso até já
prever o resultado do jogo: Ansiedade 0
– 5 Você.