domingo, 28 de abril de 2013

Sobre o Tempo



 Porque esta questão do tempo é tão delicada para nós.
De um lado está o tempo que nos pede paciência, se mostra senhor de tudo
e traz a sensação de que logo tudo estará bem.
De outro aquele que nos deixa agitadas por uma demora que a cada dia
fica mais difícil tolerar.
 Saber lidar com este senhor é importante, saber aceitá-lo e trazê-lo para o nosso lado para que, lá na frente, possamos brindar uma vitória com a certeza de que ela veio, mesmo que tardiamente, ela veio!

"Quase tudo é temporal
Temporal porque está sujeito
Ao sujeito chamado Tempo
Que é mais que momento

Que não se confessa
Pois não sente culpa de nada
Não vê minha pressa
Em displicente caminhada

Segue a pé passeando. 
Deve ser por isso que demora
Parece que tá brincando
Pensando que não tem hora

O tempo que vivo aqui
O tempo de agora
O tempo que está por vir
Que venha sem demora"

Meu Relicário


Não seria justo continuar as postagens deste blog sem uma pausa para agradecer uma pessoa que tem feito parte de todo este processo de forma tão doce e forte ao mesmo tempo, que tem sido meus pés no chão e meus sonhos nas nuvens: meu esposo.
Lendo depoimentos de outras flores por aí, percebo que as reações de um homem que ama uma mulher, ao descobrir que ela sofre de vaginismo, podem ser das mais variáveis possíveis. Alguns ficam confusos e acabam magoando, fugindo, outros são fortes e dão as maiores de todas as provas de amor:
compreensão, fortaleza e incentivo.
E, graças aos céus, meu amor está neste último grupo.

Não sei como seria minha vida caso não estivesse...
Sei que em parte a pouca experiência dele em relação a sexualidade nos protegeu em diversos momentos do nosso namoro, sei que caso ele tivesse uma vida sexual mais intensa antes de mim provavelmente nosso relacionamento não teria sido como foi, como é. Mas Deus, ou seja lá qual o nome você goste de dar para aquilo que te move, parece ter guardado este homem para mim, do jeitinho que ele é, com aqueles defeitos que me enlouquecem às vezes e com as qualidades que tantas vezes me fizeram dormir com um sorriso nos lábios.
Nossa abertura para falar de tudo, a mansidão dele diante de momentos complicados, nossa sintonia ao perceber o que o outro está pensando ou sentindo sem precisar dizer nada... detalhes pequenos mas que fazem de nós, hoje, guerreiros em busca de uma vitória a dois, que mudará nossa vida para sempre
e que já nos aproximou de forma única.

Então, meu amor, sei que você está lendo este blog e querendo realmente participar deste processo, te agradeço, por cada abraço, por sua paciência, por suas palavras de perseverança, seu carinho, seu acolhimento...
Eu não sei se conseguiria tirar de dentro de mim toda essa força pra lutar contra este trauma sozinha, e ter você ao meu lado é mais que fundamental, é uma das maiores provas de que Deus existe sim e de que Ele é simplesmente Amor.
Eu te amo muito e espero, do fundo do meu coração que nossa luta traga resultados maravilhosos e que sua postura sirva de exemplo para tantos outros homens por aí, que acabam se perdendo ao tentar ajudar suas florzinhas a vencerem essa batalha.


Vagi-o-quê?



Como começar um blog onde pretendo externalizar uma dor que hoje finalmente entendo passageira, sem deixar de lado detalhes importantes, lágrimas importantes, esperanças importantes, momentos tão complexos?

Vamos pelo começo de tudo, pela raiz de um problema não tão matemático,
mas tão confuso quanto a própria.
Começo explicando que me dei um novo apelido para me sentir mais a vontade, entendi que o ficar mais a vontade é um dos passos fundamentais nessa luta. 
Thai Soma é uma brincadeira com meu nome real, mas, como diria Shakespeare em seu grande clássico de amor: "O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem."
Então comigo tudo começou, como com tantas outras mulheres, na infância, com um vizinho maldoso, com insinuações, toques e abusos. Com a distração de pais ingênuos criados no interior que achavam natural a filhinha ter amigos de várias idades e que talvez só tenham passado a ter mais cuidado com essas amizades no dia que notaram algo diferente nesta em especial, algo tão pequeno perdido num mar de coisas maiores que eles jamais perceberam, mas que foi suficiente para protegê-la, infelizmente, tarde demais.
Vamos complicar mais essa história ao dizer que esses pais, profundamente católicos e criados em lares onde sexo era um tabu mais hediondo que o próprio diabo, jamais deram a essa filha espaço para contar o que aconteceu, que a ameaçavam sempre que ela tentava tocar no assunto da sexualidade e talvez achassem que assim, a fariam esquecer o que passou e... ser normal.
Crescendo essa menina, convivendo cada vez mais com o silêncio imposto pela educação rigorosa, a timidez e ingenuidade passaram a ser suas bases de ser, culpando-se e castigando-se por qualquer desejo que seu corpo demonstrasse e fechando-se num casulo que ela jamais imaginaria ser tão difícil romper.
Essa sou eu.

Alguns anos mais tarde, o primeiro namorado sério, também muito católico, também virgem e também tímido. Achamos que o certo seria realmente manter a castidade e lutamos por ela até o dia em que os hormônios passaram a ferver nos corpos jovens e o instinto natural tão evitado passou a falar mais alto. O peso da religião já tinha se afastado, já entendíamos que o desejo era algo natural com o amor que sentíamos e decidimos não nos frear tanto. Como as possibilidades de ficarmos sozinhos eram raras, quando a primeira finalmente chegou, muito tempo depois éramos pura ansiedade. Não rolou, claro. Mas nesse instante o sentimento era de medo, da sensação de estarmos fazendo algo errado e para esse lado foi a culpa da não realização. 
Somente muitas tentativas depois, com mais liberdade e desejo no ápice finalmente entendemos que alguma coisa estava errada. Contei do meu passado, ele me acolheu e disse que tivéssemos paciência. Tivemos, mas a danada foi acabando.
Muitos anos depois do começo dessa história e com a ajuda da preciosa ferramenta de salvação chamada internet, finalmente descobri o que poderia estar acontecendo comigo. Tudo começou a fazer sentido, muitas lágrimas passaram a cair numa mistura de alívio por entender e medo por não compreender totalmente.

Então hoje, aos 31, casada e com a possibilidade de me tratar, dei meu primeiro passo de mostrar o que se passa em mim, para que, dando um nome à esse problema, eu o perceba do tamanho que ele realmente é e possa, enfim, derrotá-lo.
Aí quem sabe esse meu desabafo ajude outras flores por aí, que ainda guardam seu perfume e não conseguiram abrir suas pétalas para a chuva da vida, aquela que lava a alma e faz a palavra mulher finalmente fazer sentido.