sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Primeira raiz: a religião


Em minha sessão semanal com a sexóloga chegamos a um dos fatores mais influentes em meu vaginismo: minha criação religiosa. Para quem não sabe, quase virei freira. Educada em lar católico, lembro que diversas vezes quando pequena, deixava de brincar com os primos pelo simples prazer de ajoelhar ao lado de minha avó e fazer orações e ofícios. E como eu amava tudo aquilo.
O problema começou na adolescência e foi piorando a cada ano. Acabei me aprofundando cada vez mais na igreja, tornei-me formadora e por isso,
precisava ser "exemplo".
Quer exemplo maior de pureza do que ser casta
e deixar clara minha opção por casar virgem?
Como era estranho ouvir de amigas que "se afastaram de Deus e caíram em pecado, engravidando sem casar". Como era triste ver como essas meninas eram tratadas por aqueles que pregavam o amor do Cristo para com todos. Como era doloroso pedir por elas e ser vista como um "provável futuro problema". Elas estavam sendo castigadas pelo mesmo Deus que as fez sexualmente normais. Como assim?

O problema maior não é a religião em si. Eu ainda vejo religiões como conforto, encontro de amigos e coisas do tipo. Elas só deixam de ser saudáveis quando uma tênue linha entre o que é ser bom e o que é ser mau se faz existir. A igreja por muito tempo dominou a política, as regras vinham dela e, por ser necessária uma "intervenção" no modo de vida da sociedade antiga, ela criou regras, estabeleceu limites e determinou as punições. Quantas e quantas mulheres que se masturbavam e tinham mais de um parceiro sexual não foram queimadas como bruxas para servir de exemplo? Em quantas comunidades do Oriente Médio mulheres já foram (e ainda são) castradas e apedrejadas até a morte por desejar um homem diferente do que o que lhes foi estabelecido?

Nosso problema parece vir da vagina mas já sabemos bem que vem de nossas mentes, ensinadas, desde sempre, que tocá-la é sujo e feio. Como tocar uma parte do nosso próprio corpo (e principalmente uma que nos traz prazer) pode ser errado? Imagine se aquela sensação boa que temos quando coçamos nossa pele fosse errada? Ou se limpar o ouvido com o cotonete fosse, sei lá, pecado?
Não seria ridículo?
Digo isto porque fica mais fácil compreender quão tosca
é essa relação entre vagina e pecado. 
Meu marido disse um dia que "se Deus fez o pênis e a vagina para encaixar tão direitinho e trazer tanto prazer, isso não pode ser ruim". E não é. 
E sabemos disso porque todas essas pessoas que consideram sexo impureza, fazem sexo, seja com suas esposas/maridos, seja de forma oculta, mas fazem porque é instinto natural do ser humano.

O preconceito com uma pessoa sexualmente ativa nasce em nosso seio familiar e é quase sempre incentivado por nossas religiões
mas ele só perdura porque NÓS deixamos.
Quando vemos uma mulher com roupas curtas na rua e a julgamos. Ou quando uma amiga fala que teve uma noite tórrida de sexo com o namorado e aquele pequeno juiz que mora em nossas mentes dominadas grita lá no fundo como ela é "pra frente demais" e até mesmo quando passamos na frente de uma Sex Shop e sentimos vergonha que alguém nos veja entrar. 
"O que vão pensar de mim?"

Esse medo nos tortura e nós mesmas permitimos isso.
A vagina é elástica, feita para a penetração e, de brinde, ainda temos nela um mecanismo que torna tudo isso prazeroso. Como ainda podemos deixar que pessoas alheias aos nossos sentimentos e sonhos
nos digam o que fazer com nosso próprio corpo?
Como podemos achar que um DEUS que nos fez como somos e que criou tudo mais ao nosso redor pode achar ruim que sintamos prazer?

É um pequeno passo para me tornar livre.
Sejamos todas donas dos nossos corpos, desejos e prazeres.
E viva o prazer!